É possível continuar levando a sério o diagnóstico de autismo?

Há 3 anos fui diagnosticado com autismo, já em idade adulta. O fato causou muita estranheza no meu meio familiar. O diagnóstico veio em resposta a problemas que estava enfrentando, principalmente relacionados a dislexia e a burnouts em função do trabalho.

A questão é que, com o diagnóstico em mãos, resolvi fazer a minha investigação, e eis que encontro um critério essencial para o diagnóstico, a falta de empatia cognitiva; ou seja, se um indivíduo não tem dificuldades para entender o que o outro está pensando e sentindo, não é autista. Sim, já vi muitos "especialistas" e "autistas" afirmando que a "falta de empatia", ou seja, traços de psicopatia, seria autismo, quando "falta de empatia" não tem nada que ver com "falta de empatia cognitiva".

Sou tímido, muito focado, disléxico, tenho dificuldades para entender o que uma pessoa expressa caso tenha uma articulação limitada, mas por outro lado tenho como característica identificar as intenções reais das pessoas e seu tipo social com uma clareza acima da média, a ponto de não raramente ter advertido a familiares e amigos a respeito de pessoas nas quais não deveriam depositar a sua confiança, e que mais tarde acabaram causando grandes prejuízos a eles. Enfim, não creio que eu, compreendendo apropriadamente as emoções e as intenções das pessoas, tenha que encaixar no critério de falta de empatia e no diagnóstico apenas por uma certa dificuldade de entender português mal falado e mal escrito -- e vejam, para esse tipo de problemas temos uma tecnologia social milenar que funciona às mil maravilhas, que consta em pedir para que a pessoa se explique novamente...

Enfim, recentemente resolvi fazer uma pós na minha área, TI, e nas apresentações 3 pessoas, todas mulheres, fizeram questão de elencar junto com seu résumé o fato de que seriam autistas. Mas vejam, as semanas estão passando e eu não encontro um mínimo traço de autismo nestas pessoas: as três são do grupo do fundão, as três não param um segundo de fazer piadas, nunca fazem uma pergunta por não terem entendido algo, não tem um desenvolvimento intelectual ou acadêmico que evidencie a presença de hiperfoco, e para além disso, estão a porra do dia inteiro no grupo do whatsaap da turma, "hiperfocadas" em perder o tempo com distrações.

Então eu me pergunto: cadê o hiperfoco? Cadê os interesses restritos? Cadê a monotonia? Cadê a falta de empatia cognitiva? Cadê os problemas de sociabilidade?

Em suma: CADÊ O AUTISMO?!

Será que a situação não foi longe demais a ponto de ter se perdido a seriedade? Vejam, essas pessoas juntas produzem mais cor e barulho que a floresta amazônica toda. Se em sã consciência um profissional acredita que pessoas assim são autistas então o seu Asperger teria que ter colocado a população inteira da Alemanha dentro do espectro. Sério, tem MUITA gente que obviamente está usando o diagnóstico para criar uma aura de glamour em torno de si, porque perceberam nisso uma vantagem competitiva, porque assistiram seriado no Netflix sobre, porque viram "especialistas" carreiristas e superficiais indo a público para "diagnosticar" a grandes personalidades do passado, porque de uns anos pra cá do aquém e do além decidiram estender um tapete vermelho para os autistas em redor do planeta e, de alguma maneira, pessoas que estão a quilômetros de distância do espectro estão conseguindo "comprar" e "vender" um diagnóstico.